quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Esperando Para Ser Feliz




Segundo o escritor e neurocientista Sam Harris1, nossa busca pela felicidade é uma viagem para um futuro distante onde, em um ato de esperança, acreditamos que apenas lá seremos felizes pois, neste exato momento, não somos tão afortunados.
Sempre que o ano termina, em clima de fim de feira, muitas são as promessas para o ciclo que está para começar. Uma esperança, por muitas vezes genuinamente ignorante, que nos convence de que seremos criaturas diferentes:
Melhores vizinhos, melhores maridos/esposas, melhores filhos, emagreceremos, pararemos de beber ou fumar, abandonaremos práticas prejudiciais que possuímos em nosso dia a dia e, iludidos por nós mesmos, seremos o melhor de nós que não conseguimos ser neste ano que finda, nem nos outros anos que já ficaram no passado.






Compreendemos a felicidade como um sentimento vindouro ou, caso estejamos felizes, velozmente passageiro. Analisamos nosso momento presente como algo insosso ou "mais ou menos", incapazes (como o próprio Harris sugere) de subtrair o máximo possível de aprendizado de cada situação corrente em nossas vidas. Amanhã serei feliz, mês que vem terei um amor de verdade, ano que vem alcanço o emprego dos sonhos, etc; sentados no trono do conformismo, da preguiça e da aceitação do que fazem com minha vida sem meu consentimento.
Alheios ao fato de que o mundo segue girando e caminhando com suas idas e vindas esperamos, pacientemente, que "algo ou alguém me mostre o caminho"2, cegos ao fato de quem ninguém, que não eu, não pode mudar, realizar e transformar nada em minha vida.






Isso sem contar a "mania" podre que possuímos de reclamar da sorte, do trabalho, do cônjuge, da família e da vida.
De dispensa cheia, temos a pachorra de encomendar uma pizza, pois em casa "não temos nada para comer." Com o roupeiro cuspindo diversas vestimentas, corremos ao shopping para comprar algo novo pois "não temos o que vestir."
De fato desde fim dos anos 1990 uma sub classe (por assim dizer) surgiu entre os miseráveis e a classe média brasileira. Sub classe essa que "pendula" entre os benefícios "supra sumo" do "andar de cima" de nossa organização social, e pode se dar ao luxo de jogar comida fora, gastar dinheiro com coisas fúteis e sentar-se a reclamar da vida "ruim" que possui quando não pode comprar algo, que muitas vezes não serve para nada, senão para exibir, tal qual o troféu obsoleto.
A insatisfação é consigo próprio, da natureza do insatisfeito e não de sua condição.





Dê ao faminto comida e ali estará seu contentamento, dê roupas ao que passa frio e se dará o mesmo, dê ao necessitado o que ele precisa e, naquela fração de segundo, sua felicidade se fará presente. Para quem tem pouco, ou quase nada, a felicidade está em pequenos pacotes que fazem de sua vida algo menos sofrido e mais fácil de aguentar. Mas para a maioria de nós, com a barriga cheia, o corpo protegido, um nível de educação mais largo, a saúde em ordem, emprego regular e família sólida, a infelicidade parece fazer parte de nosso cotidiano, como se ter todas essas coisas não fizesse a menor diferença em como nos sentimos e nos relacionamos com o mundo.
Todos nós deveríamos, alguma vez na vida, conhecer alguma das áreas mais miseráveis deste planeta. Todos nós deveríamos, pelo menos uma vez na vida, nos assentarmos em uma praça onde um bando de mendigos vivem suas vidas de pobreza e sofrimento. Todos nós deveríamos abandonar  preconceito mórbido e estúpido que possuímos sobre o alcoolismo e dos dependentes químicos, como se fossem práticas de vagabundos irresponsáveis.
Todos nós deveríamos descobrir o quanto somos felizes neste momento, agora mesmo e, da forma como nos encontramos neste instante ao invés de ficarmos, eterna e preguiçosamente, esperando para sermos felizes apenas no futuro.


Referências:

1Harris, Sam; https://www.youtube.com/shared?ci=Va4CTLBbMI0


2"frase da música 'Time' da banda Pink Floyd, albúm 'Dark Side of Moon'. "

2 comentários:

  1. A vida, é aquilo que pretendemos desesperadamente compreender enquanto vivemos..

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  2. Não espere a felicidade, apenas seja...

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